quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Os doentes não merecem greves!

As greves na saúde têm uma caraterística muito especial, que as diferencia de outras. Na verdade, os que a sofrem são as pessoas que estão internadas ou com cirurgias e tratamentos marcados e que ficam fortemente afetadas com as paralisações.

As greves na saúde deveriam ser diferentes: os médicos ou enfermeiros deveriam trabalhar na mesma, mostrando desse modo o cuidado que dão aos doentes, mas deveriam recusar o dinheiro dos dias de greve. Tudo sem prejuízo de um período de tempo, relativamente curto, para vir cá fora falar com a comunicação social, expondo as suas razões.

Procedendo assim, mereciam todo o respeito e teriam, do seu lado, não só os doentes, como os cidadãos em geral, ficando o Governo numa situação muito mais difícil.

Os cidadãos seriam informados das razões da greve e estariam, seguramente, a apoiar os médicos e enfermeiros grevistas.

Dir-se-á que esta forma de greve não seria a mais eficaz. Discordamos.

Teriam muito mais força, pois teriam a opinião pública do seu lado, desde que os motivos fossem razoáveis. Todos estamos de acordo que médicos e enfermeiros devem ser bem pagos, dentro das nossas possibilidades.

A greve tradicional é sempre injusta, pois faz padecer aqueles que não têm culpa e que se encontram numa situação de muita fragilidade.

O Governo, por sua vez, pouco sofre, podendo apontar aos profissionais de saúde grevistas a desumanidade do seu comportamento e colocar a opinião pública contra eles.

(E já se reparou que a informação sobre as razões destas greves é deficiente? As pessoas ficam sempre com a ideia de que o que está em causa é mais dinheiro. Mas de dinheiro precisam todos os funcionários e não só os que fazem greve. Frequentemente, quem menos recebe na função pública, menos condições tem para organizar uma greve).

Uma greve, fazendo sofrer quem está doente ou quem precisa de cirurgias, consultas ou tratamentos só se poderia justificar numa situação extrema, em que os próprios doentes e seus familiares a compreendessem perfeitamente, dando-lhe apoio.

Entretanto, nos hospitais privados não há greves. Quem tem dinheiro resolve os seus problemas e, por isso, se pode dizer que as greves nos hospitais públicos são greves contra os mais desprotegidos.

(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 21-09-2017)